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April 1, 2024
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23 Sept 1834 Jahr - D. Pedro dita para o seu médico e de madrugada, uma carta aos brasileiros

Beschreibung:

A missiva, impressa no Rio de Janeiro, em 1835,pela Tipografia Fluminense de Brito & Cia., veio a público sob o título:“Carta Póstuma de d. Pedro, duque de Bragança, aos Brasileiros”. A ele,seguiam-se os dizeres: “a qual foi remetida pelo doutor T...”. No início dacarta, d. Pedro explica que todos a sua volta dormiam, exaustos por velaremsua cabeceira; o único que restava acordado, e que choraria copiosamenteao tomar nota de suas palavras, era um amigo fiel. Logo após a introdução,o imperador lança-se aos antigos súditos da pátria que adotara de coração.

Uma irresistível simpatia, uma saudade sem par, me chama para vós Brasileiros! Eu sou vossopatrício, vosso patrício por escolha, por adoção, por voluntária decisão de alma embora nascesse euem Portugal, é no Brasil que eu nasci ao sentimento de mim mesmo, é no Brasil, sob o benigno céu,seu sol resplandecente, no seio da sua virginal e incomparável natureza, que minha juventudefloresceu, e que a vida com os seus mistérios, a mocidade com os seus encantos, se manifestaram aminha alma; é no Brasil que eu fui filho, esposo, pai, cidadão, soberano, legislador, fundador de umimpério! [...] Meu estado não me consente escrever [...].Já estou quite com Portugal. Paguei plenamente a dívida que contratei com o meu nascimento;regenerei suas instituições; dei-lhe uma Constituição e duas vezes a liberdade, e por ele morro na flordos meus anos. Mas convosco, Brasileiros, a minha consciência não me outorga tão satisfatóriotestemunho. Terei cumprido com todos os deveres de Fundador do Império: Mas, o foro interior meacusa de ter parado na metade da tarefa. Sem dúvida eu vos suavizei o caminho da independência; euvos salvei da horrenda anarquia que devora vossos vizinhos; eu vos dei um pacto social concordecom a vossa civilização [...]; porém não era bastante redigir e promulgar esta constituição; precisofora dar-lhe o indispensável andamento promulgando previa ou simultaneamente todas as leisorgânicas e códigos de que ainda em parte careceis depois de doze anos [...].[...] Com a constituição que eu dera cuidei que tudo estava feito e que podia descansar sob a suaégide à moda dos reis que nasceram em tão feliz posição: era pedir sombra à arvore apenas plantada


e que anda não criara raízes e folhagens.[...] As preocupações do nascimento, a falta de educação e de experiência, as alucinações da juventude sequiosa de delícias, e prazeres, a falaciosa linguagem dos cortesães da diplomacia, a faltade moral e pouca esfera dos meus primeiros conselheiros, tudo me desviou da estrada de glória e doliberalismo em que de entrada me lançara com entusiasmo e candura [...].Embora [...] me tenham indigitado como inimigo do Brasil, embora me tenham acusado de aspirar àtirania. Eu tirano? Brasileiros! Nenhum de vós, no fundo de sua alma, o tem acreditado. Quem vosdeu a Independência e a Constituição, que não sacrificou vida, usurpou propriedade, ou violou leialguma no decurso de mais de cinco anos em que a ditadura de fato esteve nas suas mãos, acasomereceu o oprobrioso título de tirano? Eu inimigo do Brasil? Quem vendo a sua administraçãodesmoronada, e perdendo as esperanças de fazer a vossa felicidade preferiu abdicar, a fazer corrersangue para sustentar a sua autoridade, nunca foi vosso inimigo, a quem oferecendo-se emholocausto, no momento de se exilar para outro hemisfério, confiou a vós aquilo que tinha de maiscaro [...], todos os filhos que gerara, quatro anjos encantadores, que seus olhos mortais jamaishaverão de tornar a ver, seus braços jamais haverão de estreitar, este decerto não vos havia perdidonem a afeição, nem a confiança nas vossas virtudes, e no amor excessivo que outrora lhe havíeisconsagrado

Ao longo da carta, d. Pedro fala de política e diz que nunca fora suaintenção, resolvidos os negócios portugueses, retornar ao Brasil e virarregente do filho. Também toca em uma questão que sempre lhe foraparticularmente cara — a abolição da escravidão:
Não posso deixar de vos dirigir uma advertência acerca da escravidão dos negros. A escravidão é ummal e um atentado contra os direitos e a dignidade da espécie humana, mas as suas consequências sãomenos danosas aos que padecem o cativeiro do que à nação, cuja legislação admite a escravatura, éum cancro que devora sua moralidade. Porém esta praga, quando herdada das gerações anteriores,quando afiançada pelas leis, quando complicada com os misteres da produção, não pode ser sanadaviolentamente, sem que a existência social perigue. Só quando o trabalho livre for mais barato que ocativo a escravidão findará de per si. Esforçai-vos pois para avançar este desejado resultado,promovendo pelos meios apropriados, e sobretudo pelos melhoramentos materiais das vias decomunicação a população dos homens livres


Em seguida, faz ele um apanhado dos partidos e políticos proeminentes noBrasil, concluindo:
Brasileiros! Eu deixo meu coração à heroica Cidade do Porto, teatro da minha verdadeira glória, e oresto do meu despojo mortal à cidade de Lisboa, lugar da minha nascença: porém vós possuís arelíquia mais preciosa, a emanação vivente do meu ser, meu filho! Meu filho único! Brasileiro nãopode estimar em demasia este caro penhor [...] Com esta dádiva eu resgatei tudo quanto deixei decumprir convosco do excelso dever [...] Meu Deus! a tua benção permaneça eternamente sobre osBrasileiros e meu Filho.Paço de Queluz, às 4 horas da madrugada de 23 de setembro de 1834

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23 Sept 1834 Jahr
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